O texto de Clarice Lispector, dentre todas as características possíveis, é um texto que dissemina sua linguagem de tal forma que o problema da existência humana passa a ser o próprio objeto da ficção. Torna-se, portanto, um problema não apenas existencial, mas da própria ficção: a literatura clariceana passa, assim, a ser totalmente introspectiva, já que se volta sobre si mesma; a ação narrada deixa de ser um evento ou acontecimento e começa a ser o problema vivido por suas personagens. Em conseqüência, as dimensões mais profundas da mente, onde muitas vezes aparecem mergulhadas em dúvidas e inquietações, vão tornar o texto de Clarice a própria narrativa do ser.
O tempo na narrativa clariceana é transformado no tempo mental de suas personagens, o narrador caminha conforme o pensamento destas, por isso ele será mais uma extensão do inconsciente do que a realidade cronológica. A literatura experimental ou ensaística de Clarice se observa como a busca do existencial, permeada na essência humana onde o tempo vivo se concentra no espaço da consciência.